Promessa é dívida

“Recebe, filho diletíssimo, o Escapulário de tua Ordem [do Carmo] , sinal de minha proteção (…) Todos os que morrerem revestidos deste Escapulário não padecerão o fogo do inferno. É um sinal de salvação, refúgio nos perigos, aliança de de paz e pacto para sempre”.

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O peso das coisas “sem peso”

Em nossa sociedade com tantos traços materialistas, em que o número, o tamanho, o preço imperam, é-se levado a valorizar quase exclusivamente o palpável, o concreto.

Entretanto sabemos que um conselho, um bom trato, um sorriso podem ser decisivos quando queremos fazer o bem, fazer voltar-se para coisas mais elevadas, ter ânimo para sair de situações difíceis.

Uma experiência científica veio comprovar isso: o peso das coisas aparentemente “sem peso”.

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Peregrinando dentro de um olhar – 2

Normalmente peregrina-se a algum Santuário, a algum lugar sagrado, porém físico. Entretanto numa conferência, o Mons. João Clá nos fez uma agradável e magnifica surpresa: peregrinar dentro de um olhar.⁽¹⁾

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Amor sem fronteiras

Bem Aventurado Carlos, Imperador da Áustria, Rei da Hungria

“Bem aventurados os pobres de espírito porque deles é o Reino dos Céus”, assim inicia Jesus o seu célebre Sermão da Montanha (Mt 5).

Curiosamente algumas pessoas fixam-se apenas no termo secundário (pobres) e consideram menos o principal (de espírito).

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Levante a mão

Leopold Mozart com o filho Wolfgang e a filha Nanerl

Um amigo pouco conhecedor do perfil dos Arautos do Evangelho ficou bem impressionado com a disciplina que percebeu haver no nosso estilo de vida. Perguntava-se se essa disciplina era fruto de um amor pela causa abraçada ou se era “uma imposição” vinda “de cima”.

— Você conhece o Mons. João Clá? —perguntei-lhe.

— Muito pouco, e só por algumas coisas lidas. Vi um trecho de vídeo em que aparecia o Mons. João, mas foi só um pedacinho. E nesse trecho ele apenas regia um coral…

— Então vou contar-lhe uma.

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O azul da chama

Ouvi do Mons. João Clá uma reflexão interessante, cheia de lições para a vida:

O grande Salomão — “o mais sábio dos homens”, conforme as Escrituras — entrou em agonia. Prostrado no leito real, a vida terrena esvaia-se e despontava a eternidade: era a morte.

Desde tempos antigos era costume o moribundo ter na mão uma vela, uma chama, como sinal da fé em Deus. Mas na câmara real não havia uma vela sequer. Como seguir o costume?

O único fogo era o de um braseiro. Mas… pôr uma brasa na mão do rei?

Uma criança deu a solução.

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Harmonias

Seria possível compor uma música com uma nota só?

Na medida que se possa chamar de música o som de uma sirene ou de uma buzina, sim. Mas aí seria um único tom, seria mono tom, seria monótono: esse é o significado da palavra “monótono”. Um só (“mono”) som (tono).

É o mínimo que se poderia dizer de um único som: monótono.

Para haver beleza, a música deve ter uma variedade de sons. Só havendo variedade é possível harmonia.

Vejamos, então, uma música.

A Santa Igreja Católica é a grande sinfonia criada por Deus para os ouvidos da nossa alma. Sinfonia que reflete a variedade de atributos do Criador, suas infinitas perfeições.

No dia 6 de outubro a Igreja comemora uma das notas musicais inspiradas poe Ela: São Bruno, fundador da Cartuxa, uma das ordens religiosas mais ciosas da perfeição, a brilhar nos céus da Santa Igreja.

São Bruno viveu nos últimos anos do século XI. Inspirado por Deus, fundou o Ordem dos Cartuxos, que na solidão, no perpétuo silêncio e austera simplicidade busca a perfeição da vida contemplativa. A Ordem tem um lema: “Nunca reformada porque nunca deformada”, expressão de sua fidelidade ao carisma original do Fundador.

Para aquilatarmos a obra de São Bruno, vejamos como se passa a vida de algum de seus filhos espirituais. Para isso, penetremos na austera cela onde um cartuxo reza. À sua frente um crucifixo relembra a morte mais dolorosa que jamais houve. Revestido de um simples e pobre hábito, parece a personificação da gravidade, da resolução varonil de só viver para o que é verdadeiro, eterno, de nobre simplicidade e espírito de renúncia a tudo quanto é da terra. Pobreza material enfim, iluminada pelos reflexos sobrenaturais da mais alta riqueza espiritual. ⁽¹⁾

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Consideremos a outra ilustração: o Concílio reunido na Basílica de São Pedro. É uma feeria de cores, luzes e pompas numa cena histórica. Tudo se reveste de uma grandeza, que é o suprassumo do que a terra pode apresentar de mais belo.

O que em uma foto é gravidade recolhida, no outro é glória irradiante. O que em um é pobreza, no outro é fausto. O que em um é simplicidade, no outro é requinte. O que em um é renúncia às criaturas, no outro é a superabundância das mais esplêndidas dentre elas.

Pode-se, então, ao mesmo tempo amar a riqueza e a pobreza, a simplicidade e a pompa, a ostentação e o recolhimento? Pode-se a um tempo louvar o abandono de todas as coisas da terra, e a reunião de todas elas para a constituição de um quadro em que reluzem os mais altos valores terrenos, reflexos da Beleza infinita de Deus?

Existe uma contradição?

Não, pelo contrário, a Igreja Se mostra santa, e sabe estimular a prática das virtudes presentes na vida obscura do Monge, e no esplendor de São Padro. Uma coisa se equilibra com a outra, um extremo (no sentido bom da palavra) compensa a outro e com ele se harmoniza.

Na austeridade do Monge, se vai até Deus considerando o que as coisas não são. No esplendor da Liturgia se sobe até Ele.

A Santa Igreja convida os seus filhos a irem por uma e outra via simultaneamente. Pelo espetáculo sublime de suas pompas, e pela consideração das admiráveis renúncias que só Ela sabe inspirar e fazer realizar.

Como numa música bem composta, as diversidades combinadas harmoniosamente são o fator de beleza.

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⁽¹⁾ Adaptação de trechos do artigo “Pobreza e fausto: extremos harmônicos no firmamento da Igreja”, Plinio Corrêa de Oliveira, jornal Catolicismo, nº 96.

Anjo ou Padre?

O “Anjo”: Pe. Patrick Dowling

“A história que fascinou o país por vários dias” assim se referiram os jornais americanos — e do exterior — a um acidente automobilístico ocorrido no domingo, 4 de agosto, numa rodovia do estado de Missouri, nos Estados Unidos.

Hoje, dia dos Santos Anjos da Guarda, temos a alegria de transmitir os fatos então ocorridos: um fenômeno muito curioso que atraiu a atenção dos que o assistiram, tendo ampla repercussão na mídia.

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O Guarda suíço

É mundialmente conhecida a famosa guarda suiça do Papa, não só pela disciplina, pela bela vestimenta, como pela sua dedicação em zelar pela pessoa sagrada daquele que Jesus constituiu como “pedra sobre a qual edificou a sua Igreja”.

Muitos dos guardas suíços, ao longo dos séculos deram exemplo dessa dedicação, chegando às vezes a sacrificar a própria vida na defesa daquele que Santo Inácio de Loyola chamava “o doce Cristo na terra”.

Tiveram exemplos históricos para seguir.

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Regina Fidei

Regina Fidei[1] Dente as inúmeras “pérolas” que constituem o cabedal de virtudes de Maria Santíssima, sem dúvida uma das virtudes teologais tem papel fundamental diante das outras: a Fé. Ela é o Speculum Iustitie[2], ou seja, o modelo exemplar acabadíssimo de todas as virtudes cristãs.

Nosso Senhor Jesus Cristo, como Filho de Deus que era, via claramente, ainda com sua inteligência humana, as verdades reveladas por Deus na mesma divina essência, e por isso não teve e nem podia ter Fé, que é incompatível com a visão. Com a Fé, cremos no que não vemos, fiados na palavra de Deus revelante, que não pode enganar-Se nem enganar-nos.

Neste sentido, Maria é o mais alto e sublime modelo de Fé que já existiu. Sua Fé foi excelentíssima sobre toda ponderação.

No Evangelho, Santa Izabel sua prima, divinamente inspirada, se congratula com Maria por sua Fé: “Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas”.[3]

Os Padres da Igreja reconhecem na Fé de Nossa Senhora o princípio de sua maternidade e de sua grandeza. Eles admitem como um axioma que fide concepit, fide peperit: “pela Fé concebeu, pela Fé deu a luz”.

Assim explica o grande teólogo, o Pe. Garrigou Lagrange em sua obra “La Mère Du Sauveur – Notre vie intérieure” (A Mãe do Salvador – Nossa vida interior): sua Fé infusa era, com maior razão, profundíssima, por seu objeto, pela revelação que lhe foi feita, o dia da Anunciação, dos mistérios da Encarnação e da Redenção, por sua santa intimidade com o Verbo Encarnado.

Ademais, subjetivamente sua Fé era mui firme, segura e pronta em sua adesão, pois estas qualidades da Fé infusa são tanto maiores quanto maior é esta. Maria recebeu a Fé infusa mais elevada que jamais existiu.

Assim, pois, não podemos fazer uma ideia da profundidade da Fé de Maria. Creu na Anunciação desde o momento em que lhe foi suficientemente dita a verdade divina sobre o mistério da Encarnação redentora.

Na Natividade, vê nascer seu Filho em um estábulo e crê que é o criador do universo; quando começa a balbuciar, crê que é a própria Sabedoria; quando deve fugir com Ele ante a cólera do rei Herodes, crê, sem embargo, que Ele é o rei dos reis, o senhor dos senhores, como dirá São João.

Durante a Paixão, Ela permanece ao pé da Cruz, firme sem desmaiar; não deixa de crer um só instante que seu Filho é verdadeiramente o Filho de Deus, Deus mesmo, que Ele é, que ainda que aparentemente vencido, é o vencedor do demônio e do pecado e que dentro de três dias triunfará sobre a morte pela sua Redenção. Este ato de Fé de Maria no Calvário, na hora mais escura, foi o maior ato de Fé que jamais existiu; o objeto era o mais difícil: Jesus alcançaria a maior vitória por meio da mais completa imolação.[4]


 

[1] Rainha da Fé.

[2] Espelho de Justiça.

[3] Cf. Lc I, 45.

[4] LAGRANGE, Garrigou. La Mère Du Sauveur – Notre vie intérieure. 3ª Edição. Madrid ; Rialp, 1990. P.  153, 154.