O Cavalo “Enorme”

A criança apetente do maravilhoso – e, por isso mesmo, apetente de Deus – tende para aquilo que é mais excelente. Pode ser que, depois, pela desordem própria à natureza humana, ela abuse dessa tendência e tenha a mania de possuir certas coisas, mas esse primeiro movimento, pelo qual o homem deseja o melhor e o que mais lhe convém, é em si reto! E, por causa disso, a imaginação da criança é muito fértil e ela facilmente atribui aos seus brinquedos qualidades que estes não têm. Esses movimentos existem nas almas de todas as crianças e fazem o maravilhamento da infância.

Eu possuía um brinquedo comum: era um cavalinho de pano posto sobre rodinhas com eixo de metal e com uma pequena fita pela qual eu podia puxá-lo. Para os meus braços, era um cavalo muito grande e eu tinha inclusive certa dificuldade para movimentá-lo. Então, eu o chamava de “Enorme”.

Durante a viagem, de vez em quando eu falava sobre o “Enorme”, E, quando voltamos, eu disse:

“Quero o meu ‘Enorme’!”

Lembro-me como se fosse hoje: levaram-me para o quarto do andar térreo da casa, no qual havia um armário trancado, onde haviam sido guardados os brinquedos das três crianças da família. Abriram-no e tiraram o “Enorme”. A minha primeira reação foi de exclamar:

“Esse não é o ‘Enorme’!”

Duas ou três pessoas em torno de mim deram risada, afirmando ser o “Enorme”.

E, de fato, era terrivelmente parecido… Mas para mim era muito inferior! Qual a razão?

Eu tinha crescido e o “Enorme” tinha deixado de ser enorme… Mas, por outro lado, ficando mais velho eu notava tratar-se de um boneco de pano, enquanto que antes da viagem eu o via quase como um ente vivo. Portanto, eu tinha atribuído ao “Enorme” algumas qualidades que um cavalo devia ter e que um boneco não podia ter. Eu estava, no fundo, à procura de alguma coisa que transcendesse: era o cavalo vivo!

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