Nossa Senhora da Luz

Postado à entrada do grandioso Templo em Jerusalém, o velho Simeão aguardou durante toda a sua vida o momento no qual poderia ver com seus próprios olhos o Messias tão esperado. Sua fé por fim foi premiada, e no feliz dia em que pôde ter em seus braços o Divino Menino Jesus, voltou a face aos céus e proclamou agradecido:

“Os meus olhos viram a vossa salvação (…) luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo Israel” (Lc 2, 30-32).

O venerável ancião falava com toda a propriedade. O Messias possuía em Si essa sobrenatural e magnífica Luz cujos raios haveriam de penetrar os confins de toda a terra, conquistando as nações, expulsando os demônios, e por fim abrindo aos homens as portas dos Céus.

E que se poderia dizer da Mulher escolhida por Deus para trazer ao mundo tal Luz? Séculos antes, Ela havia sido anunciada pelo grande profeta Isaías: “Eis que uma Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, cujo significado é: Deus conosco” (Is 7,14; Mt 4,16).

Sendo a portadora desta Luz de valor infinito, com muita razão os homens, nos séculos vindouros, A venerariam sob a bela invocação de Nossa Senhora da Luz. E foi sobretudo no Portugal do século XV que essa devoção floresceu e dali se difundiu para além-mar.

A protetora de um pobre cativo

Pedro Martins, simples agricultor da pequena vila portuguesa de Carnide, levava uma existência tranqüila com sua esposa. Mas eram turbulentos os tempos em que viviam. As crônicas não relatam exatamente como, mas ele teve o infortúnio de cair prisioneiro dos mouros da África.

Do ambiente de afeto de sua família, caiu na desgraçada condição de escravo, sujeito a um regime sem compaixão de trabalhos pesados, sob clima atroz e, sobretudo, privado por completo do conforto da religião cristã.

Passavam-se os anos, e nenhuma esperança humana restava ao infeliz cativo. Vendo-se de tal modo desamparado pelos homens, Pedro Martins se voltou então, com mais intensidade do que nunca, para Deus.

Numa noite, isolado em sua cela, resolveu rezar com mais fervor e fé.

Após horas de oração, vencido pelo sono, adormeceu. Então apareceu-lhe em sonho uma Senhora cheia de luz,

a qual lhe prometeu voltar mais vezes para consolá-lo e, após sua última visita, fazê-lo voltar para Carnide. Acrescentou que, lá chegando, ele deveria procurar algo que pertencia a Ela e fora escondido perto de uma fonte. Deu-lhe também a incumbência de ali edificar uma capela, cuja localização exata. Ela lhe indicaria por meio de uma luz.

Trinta noites consecutivas passou ele consolado pela própria Mãe de Deus! As dores sofridas durante o dia se desvaneciam pela luz e a suavidade das horas passadas aos pés de Maria.

No entanto, ele continuava cativo. Ao despertar da trigésima noite, oh surpresa!

De modo milagroso e inesperado, estava ele de volta em sua boa aldeia.

Tomado de emoção, encontrou-se com os seus entes amados, os quais muito se admiravam por vê-lo salvo.

Mas ele não se esqueceu do pedido da Virgem, e logo se pôs a procurar aquilo que, segundo a indicação d’Ela,

tinha sido escondido “perto de uma fonte”. Na verdade, num local chamado Fonte do Machado, há tempos uma

luz misteriosa andava aparecendo, e de toda parte vinha gente curiosa para ver tal fenômeno. Decidiu então Pedro ir à noite, acompanhado de um primo, para ali fazer a busca. Realmente, ao chegar à fonte avistaram uma luz a se mover diante deles. Seguiram-na até um matagal, e ela parou sobre umas pedras.

Eles não pensaram duas vezes. Retiraram as pedra
s e com encanto se depararam com uma lindíssima imagem de Nossa Senhora.

A notícia dessa milagrosa descoberta correu por todo o país, e naquele mesmo ano — 1463 — deu-se início à construção de uma capela, conforme fora ordenado pela Santíssima Virgem.

Anos mais tarde, ela seria substituída por uma magnífica igreja.

Uma devoção floresce pelo mundo

Atravessando os mares, a devoção a Nossa Senhora da Luz estendeu-se pelo mundo inteiro, frutificando em graças prodigiosas, de modo especial nos lugares colonizados pelos portugueses. São muitos os milagres a Ela atribuídos, e não seria demasiado aqui citar mais um.

Por volta de 1650, existia num povoado de colonos do sul do Brasil uma capela dedicada à Senhora da Luz, localizada perto de um rio chamado Atuba. Seus habitantes andavam muito perplexos, pois todas as manhãs a imagem da Virgem aparecia com a face voltada para uma região de muitos pinheiros — curytiba, em idioma tupi — onde viviam os ferozes índios tingui. Resolveram então desbravar aquela área, e paralá se dirigiram, dispostos a enfrentar um eventual ataquedos indígenas.

Ao aproximarem-se, qual não foi sua surpresa quando Tindiquera, o cacique da tribo, adiantou-se sorrindo e os acolheu calorosamente.

Era, sem dúvida, uma milagrosa ação pacificadora da Virgem. Tornando-se amigo dos colonos, o chefe índio não só lhes cedeu o terreno que pretendiam, mas indicou-lhes o melhor lugar, fincando sua lança no solo; os colonos ali a deixaram, em sinal de respeito e amizade. Ao chegar a primavera, a lança do amistoso cacique floriu. Não eram necessários mais sinais. Ali mesmo, sob o amparo da protetora imagem, fundaram uma nova vila cujo nome, como era comum nessa época, mesclava palavras portuguesas e indígenas: Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curytiba.

Nesse mesmo local ergue-se hoje uma imponente catedral neo-gótica, testemunho da ação ao mesmo tempo pacificadora e luminosa da Mãe de Deus.

A admirável invocação de Nossa Senhora da Luz é um contínuo convite a todos nós para cada vez mais amarmos e seguirmos o seu Divino Filho, o qual de Si mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo; aquele que Me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12).

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