Você tem o saudável hábito de olhar céu material? Aquele que vemos, chamado por Santa Terezinha “o lado avesso do Céu de Deus”? Caso positivo, facilmente constatará um fenômeno curioso.
Preste um pouco atenção em duas horas do dia:
— logo após o por do sol,
— pouco antes do nascer do sol.
Verá uma estrela bem próximo ao ponto do horizonte onde o sol se pôs ou vai nascer.
É bem conhecida — apesar de pouco lembrada — a relação que Deus quis estabelecer entre fenômenos meramente materiais e realidades espirituais. Qual a relação dessa duas estrelas com algo espiritual?
A Santa Igreja nos ensina serem elas símbolos de Nossa Senhora.
A estrela visível logo após o pôr do sol representa Nossa Senhora como a esperança que Deus deixa na alma de quem teve a desgraça de ofendê-lo gravemente. Nesta alma, o sol — representação da graça — se põe. Resta entretanto o socorro de Maria, a Estrela Vespertina.
Pouco antes do nascer do sol uma estrela brilha intensamente indicando o lugar que o sol vai nascer. Assim também com Nossa Senhora: se o pecador mantém a confiança em Maria verá em breve nascer em sua alma o sol da graça.
Os comentaristas costumam referir-se a Nossa Senhora como a estrela que anuncia o nascimento do Sol da Justiça, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Um fato ocorrido nos últimos anos dos navios à vela ilustra esse papel de Maria Santíssima como esperança na noite do pecado.
Um belo veleiro ao transpor o tempestuoso cabo Horn no extremo sul da América teve um de seus tripulantes lançado ao mar. Imediatamente atiraram-lhe dois salva-vidas, a um dos quais se agarrou e foi resgatado.
Em meio à tempestade o outro salva-vidas desaparecera. O navio ora avançava um pouco, ora recuava arrastado pelos ventos. Nisso se passou a noite.
Ao alvorecer, com o mar um tanto calmo, apareceu o outro salva-vidas e agarrado a ele, extenuado, um marujo.
Era Jacques, corajoso marinheiro, conhecido por levar uma séria vida de oração e pelo fato de acolitar todas as Missas que o Capelão de bordo celebrava.
O que acontecera?
Jacques, nadador exímio, ao ouvir o grito de “homem ao mar”, lançou-se nas ondas com a esperança de poder ajudar o naufrago. A violência da tempestade, porém, não o permitiu. Viu o marujo ser recolhido e sabia não ser do conhecimento de ninguém o fato de ser ele agora o naufrago.
Aproveitando um trégua da tempestade, o navio içou algumas velas e… distanciou-se. A Jacques só restava agarrar-se à segunda boia. A noite caia, o navio afastava-se. Não tinha ele nenhuma função escalada para aquela noite; provavelmente não dariam falta dele…
Noite escura, céu encoberto, rajadas de chuva e vento gélido o impediam de ver a estrela vespertina, símbolo de Maria Santíssima a quem tanto amava. Mas no seu coração essa Estrela não se apagara nem um instante. Rezou à Virgem e resistiu.
Durante a madrugada o temporal amainou, e um vento forte se fez sentir. O céu começou a clarear debilmente, e nele brilhava a estrela matutina.
Antes do sol aparecer, surge no horizonte a silhueta do navio, empurrado pelo vento em sua direção. Junto com a estrela matutina chega-lhe a salvação.
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[Este fato é narrado pelo Pe. Raul Plus em sua obra “Maria em nossa história divina”, Ed. Tipografia União Gráfica, Lisboa, 1943]