Ouvi do Mons. João Clá uma reflexão interessante, cheia de lições para a vida:
O grande Salomão — “o mais sábio dos homens”, conforme as Escrituras — entrou em agonia. Prostrado no leito real, a vida terrena esvaia-se e despontava a eternidade: era a morte.
Desde tempos antigos era costume o moribundo ter na mão uma vela, uma chama, como sinal da fé em Deus. Mas na câmara real não havia uma vela sequer. Como seguir o costume?
O único fogo era o de um braseiro. Mas… pôr uma brasa na mão do rei?
Uma criança deu a solução.
—Ponham um pouco de areia daquele vaso e coloquem a brasa em cima.
Salomão, o mais sábio dos homens, disse com a voz sumida:
— Morrendo e aprendendo.
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A chama da vela, é tida desde tempos imemoriais como símbolo da fé e da vida. Na Missa, as velas no altar simbolizam a fé dos presentes. No Batismo, a vela portada pelos padrinhos é o símbolo da fé a ser recebida neste Sacramento. Assim por diante.
A vida poderia comparar-se a uma vela acesa, em que a Fé seria a chama. O cuidado a se ter é o mesmo que se teria com uma vela material: evitar que a chama se apague.
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Como não deixar apagar-se a chama da Fé?
Mons. João tratou então do ponto central da questão: como preservar a chama da Fé?
Há um recurso fundamental: nossa fé deve fundar-se em princípios, em convicções. Para levarmos adiante a analogia com a chama da vela, observemos o seguinte:
A chama de uma vela compõe-se de três partes: há, bem junto ao pavio, uma pequena área azul; na parte periférica, uma luz intensa, extremamente quente; entre uma e outra, uma área de transição entre o azul e a luz.
Submetida a situações adversas — um sopro, por exemplo — a parte luminosa e quente quase desaparece. Se for um sopro mais forte, resta apenas a parte azul “agarrada” ao pavio. Se este azul se apaga… a vela se apaga.
De modo análogo, com a fé: o azul são as convicções; estas geram argumentos, normas de conduta, zelo em fazer bem ao próximo etc. A graça de Deus alimenta todo esse conjunto, traz consolações, ânimo, entusiasmo sensível etc. Se alguma adversidade se apresenta, esta parte sensível diminui e até pode desaparecer temporariamente. Só as convicções — o azul — permanecem.
É, portanto, essencial para nossa perseverança termos convicções e princípios bem firmes: na hora da provação, da aridez são eles que restam, fortalecidos pela graça.
Vemos tanta gente desnorteada, sem saber tomar uma decisão, sem saber no que acreditar. Nesses, o “azul” é tão fraco que o menor vento apaga.
Sem convicções não há ânimo
Outra funesta consequência: sem convicções não há ânimo, não há zelo pelo bem, pela verdade. A alma perde seu brilho e o desejo de fazer bem ao próximo.
Se o leitor quiser saber como está a fé de alguém, para poder ajuda-lo, faça esta experiência: se a pessoa não tem ânimo, provavelmente tem uma fé débil — procure ajuda-lo. E o melhor caminho para aumentar a fé é por meio da oração. Peça-lhe que reze pelo menos ao levantar-se e ao deitar. Se propor rezar o terço, ao menos de vez em quando, encoraje-o.
É a chama de sua fé comunicada a outra que está bruxuleante.
E você terá um prêmio: a sua própria fé aumentará.