Quem já teve a alegria de contemplar um caleidoscópio, deve ter ficado encantado com as sucessivas e inesperadas combinações de cores maravilhosas. Terá Deus um caleidoscópio?
Sim. E que “Caleidoscópio”! Vejamos…
Pe. Antônio Guerra de Oliveira Jr., EP
Muito já se escreveu e discorreu acerca da Virgem Mãe de Deus. Entretanto, faltam-nos palavras para exprimir quanto devemos à sua inigualável Pessoa.
O culto a Ela remonta ao início da Cristandade, e foi crescendo ao longo do tempo, fazendo-A figurar na pluma dos mais insignes pensadores e nos lábios dos mais eloquentes pregadores, e também nas obras dos mais talentosos artistas que a História conheceu.
Ora aparece Ela com afável sorriso, ora com fisionomia compassiva ou com olhar suavemente entristecido, porém sempre nos convidando a, por meio d’Ela, mais facilmente nos aproximarmos do trono de Seu Divino Filho.
Em dois milênios de Cristianismo, a figura ímpar de Maria Santíssima foi representada das mais variadas formas.
Em sua fase inicial, a Igreja A concebeu como Virgem Orante, com os braços abertos em sinal de prece, e sem o Menino Jesus. Ou ainda como Virgem Mãe, deixando transparecer uma divina pureza em sua feição.
No período românico, Maria é principalmente representada como Mãe de Deus, majestosa, ereta, com olhar hierático. Sentada em trono como Rainha, tem sobre os joelhos Jesus, a Sabedoria Eterna, e O apresenta ao mundo com gesto respeitoso, segurando-o com as duas mãos. São as imagens de Sedes Sapientiæ (Sede da Sabedoria).
Desde o final do século XII, a hieraticidade cede lugar ao movimento. O Menino Deus “muda” de posição: tal imagem O apresenta num dos braços da Mãe, tal outras obre os joelhos. A figura da Virgem ganha em destaque e simbolismo: difundem-se as Virgens Negras, coloração explicada por certos exegetas num sentido místico de dor e sofrimento; ou ainda as Virgens com Maçã, relembrando que a nova Eva reparou o pecado da antiga.
No século XIII, em pleno auge do gótico, tudo canta o louvor à Santíssima Virgem: inúmeras igrejas são levantadas em Sua honra, multiplicam-se nos púlpitos as referências a Ela, e a Liturgia A celebra abundantemente. Na pintura e na escultura, a Rainha e Mãe toma ares de uma nobre dama que brinca com seu Filhinho e O abraça com todo afeto. “Sempre foi verdade — afirma o padre Dinarte Passos — que o estilo gótico atingiu o ideal em todas as artes, também, portanto, aqui na arte marial”. (1)
Depois da Idade Média, rompem-se os estreitos vínculos entre a arte e a Fé. A escultura e a pintura se materializam. Na Renascença e no período Moderno, enquanto progredia a técnica de como fazer, perdia-se em boa medida o espírito de como criar.
Mas as manifestações de devoção a Nossa Senhora não deixaram de crescer também nessa época.
Sendo Mãe, Maria quer entrar em contato com seus filhos, procura adaptar-Se aos bons aspectos deles, transmite-lhes mensagens.
Daí nasceu o culto à Virgem Maria designando-A pelo nome do local onde Ela apareceu: Nossa Senhora de Fátima ou Nossa Senhora de Lourdes, por exemplo.
Invocações há que expressam veneração por algum aspecto de sua vida, como Nossa Senhora Menina; ou algum episódio do Evangelho, Nossa Senhora do Desterro, que evoca a fuga para o Egito. Há também formas de representá-La de acordo com as particulares circunstâncias em que Ela nos ajuda: Nossa Senhora da Pena, inspiradora das artes e das letras; Nossa Senhora dos Mares ou Nossa Senhora da Estrada, protetora dos viajantes.
Dezenas são as festas celebradas em honra da Santíssima Virgem ao longo do ano, mas uma delas chama de modo especial a nossa atenção: a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, que a Igreja comemora no dia1º de janeiro. Assim, o ano se inicia sob Seu olhar e Sua proteção.
A Maternidade Divina de Nossa Senhora é tão sublime que A coloca acima de todas as outras criaturas. Pois, segundo a expressão do Cardeal Caietano: “Somente a Bem-aventurada Virgem Maria chegou aos confins da divindade por sua própria operação natural, já que concebeu, deu à luz, engendrou e alimentou com Seu leite o próprio Deus”.(2)
Em vista de tanta sublimidade, ninguém será capaz de exprimir de modo perfeito e acabado — por qualquer tipo de obra artística ou literária— as mil facetas d’Aquela que, segundo São Tomás, tem uma “certa dignidade infinita”. (3)
Poderá alguém, ao menos, escolher entre várias representações de Nossa Senhora alguma cujo olhar exprima mais adequadamente Aquela que “chegou aos confins da divindade”? Convidamos o caro leitor a fazer a sua escolha na galeria abaixo…
.
(1) Cf. PASSOS, CM, Dinarte Duarte. A Imagem da SS. Virgem através da História. Revista Eclesiástica Brasileira, v. VII, f. IV, p.868.
(2) CAIETANO, apud ROYO MARÍN,OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid. BAC, 2001, p.89.
(3) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.25, a.6, ad.4.
(Adaptado do artigo “Um olhar com mil facetas”, na revista “Arautos do Evangelho, nº 100, de abril de 2010, p. 50-51. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )
Ilustrações: Arautos do Evangelho, Pe. Timothy Ring, Sergio Holmann, Gustavo Krajl, Luis Varela, Sérgio Miyazaki.
Clique nas imagens para ampliá-las
Obrigado por nos lembrar das inúmeras aparições e denominações da mãe de Jesus e nossa.