Inocência, o paraíso que não se pode perder

Na cerimônia do Batismo ouvimos as palavras do sacerdote pedindo a Deus graças para que a criança leve por toda a vida a sua inocência íntegra e imaculada como é alva a roupa que veste.

De fato o encanto que têm a criança batizada é praticamente universal e, quando tem a infelicidade de perder a inocência, suscita sentimentos como os do poeta: “Ah! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida…”

De fato, quem trata com crianças na primeira infância, pode a justo título impressionar-se pela exatidão de suas observações, e até perguntar-se como conseguiu alguém tão desprovido de experiência emitir juízos tão simples e acertados.

Ao sair das mãos do Criador, toda criança recebe d’Ele um tesouro – a inocência– cuja retidão lhe faculta intuir a direção do caminho do Céu graças a três pistas distintas, irmanadas e imbricadas: o bem, a verdade e a beleza. O inocente percebe instintivamente que estes paralelos se tocam num horizonte infinito, onde encontram sua unidade naquele Deus sublime e escondido que é fonte e origem de toda perfeição.

Esta intuição se robustece, pela comprovação diária, no contato com os outros e com a natureza: na medida em que uma coisa for boa, verdadeira e bela, será desejável; mas se tiver algo de mau, falso ou feio, participará de outro princípio, que não é Deus, tornando-se rejeitável.

Ora, este “senso do ser”, ou instinto à busca do Absoluto, só é realmente íntegro na alma inocente, pois o pecado e suas consequências deformam a alma, fazendo-a ficar cada vez mais cega e surda para as realidades sobrenaturais. Assim, o homem perde aos poucos o rumo de como chegar até Deus…

Precisamente para suprir esta falência, ele necessita da formação. Já que a inocência recebida pela criatura carece de força suficiente para subir até onde deve, o Soberano Senhor estabeleceu que, por meio de almas cheias de conhecimento, amor e generosidade, o Absoluto da Inocência se debruce do alto Céu, onde habita, sobre sua criatura extraviada, e a eleve ao ponto que teria atingido se tivesse conservado sua integridade original.

Isto exige, contudo, que Deus disponha de instrumentos dóceis. Mais ainda: como os apóstolos da formação devem infundir nos outros algo que vem d’Ele, precisam ser de fato pessoas verdadeiramente inspiradas. Assim, vemos Deus agir sempre do mesmo modo, desde os tempos evangélicos até hoje: primeiro, escolhe alguns poucos e os forma, entregando-lhes de viva voz seus mais preciosos haveres; depois os encarrega de transmitir este legado às gerações posteriores.

Ilustrações: Arautos do Evangelho, Gustavo Krajl, pixabay, gaudiumpress

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