Às vezes, quando arrumo as gavetas ou papéis antigos, aparece alguma coisa interessante. Foi o que aconteceu hoje.
Encontrei um papel, já amarelado, mas ali havia uma preciosidade.
Foi tirado de um livro de textos de Língua Portuguesa quando ainda estava no ginásio (hoje seria a 6ª ou 7ª série). Infelizmente, na despreocupação juvenil, não anotei o nome do livro, autor, etc. Nunca pensei que poderia ser útil para outros como fora para mim quando o guardei.
Conversando com os jovens que frequentam a casa dos Arautos, vi que lhes fez bem conhecerem o fato. Creio que também o fará aos frequentadores do blog.
Um conhecido pesquisador dos pássaros brasileiros (*), famoso pela divulgação dos cantos de aves brasileiras, narra um fato que aqui resumo:
Estava ele próximo ao Pantanal pesquisando sobre os hábitos das aves da região. Conforme ele mesmo conta, sua melhor fonte de informações eram os camponeses da região. Um desses — que teve suas informações confirmadas por outros, e mais ainda pela constatação direta do pesquisador — disse-lhe que o conhecido pássaro João de Barro… não trabalha aos domingos.
— Se o Doutor — dizia-lhe o camponês — quebrar a casa do João de Barro em qualquer dia da semana, ele conserta no mesmo dia. Mas se quebrar no domingo, ele vai dormir em alguma outra casa abandonada e na segunda-feira cedo já está consertando. Mas, no domingo, não.
O homem ouviu meio cético, mas, por via das dúvidas, no domingo seguinte resolveu constatar se era verdade ou não.
Localizou facilmente uma “casa” de João de Barro habitada. Esperou que os pássaros saíssem — digo “os pássaros” porque também saiu a “Joana de Barro” — e com um estilingue quebrou a “casa”.
Esperou pacientemente. Algum tempo depois volta o João (e a Joana…) de Barro. Verificam o estado da casa, e saem em busca de alguma “casa” abandonada. Na segunda feira cedo, lá estavam os dois a reparar o estrago.
Repetiu esta operação em outros domingos, com outros ninhos, tendo sempre o mesmo resultado.
Já de partida para outras paragens, encontrou o camponês que lhe dera a informação. Comentou como confirmara o que havia dito e agradeceu.
Já ia saindo quando o informante disse:
— É doutor… E se o senhor quebrar nos dias santos que mudam, como sexta-feira Santa, Corpus Christi e outros, ele também não conserta não.
Concluía o texto:
Pena que não deu para verificar essa informação, mas acho que é verdadeira.
* * * * *
Não somos João de Barro, mas será que guardamos o domingo como faz esse simpático bichinho?
(*) Johan Dalgas Frisch, autor de vários discos com cantos de pássaros do Brasil e vários livros sobre o assunto. Foi quem gravou o canto do lendário Uirapuru.
Ótimo texto! Bem instrutivo e reflexivo.