Haveria um paralelo entre o filho pródigo do Evangelho e a atual situação da humanidade?
A liberdade e a razão são os dons mais preciosos recebidos do Pai. Em certo momento o homem resolveu utilizar esses dons separados de Deus, por assim dizer, fora da casa paterna. Num processo multissecular, primeiro rejeitou a autoridade da Igreja, em seguida a divindade de Cristo e, por fim, negou a própria existência de Deus.
Construiu um poderoso império: progrediu nas artes, nas letras, nas ciências, nas leis, nas comunicações… Parecia ter chegado a uma era de esperança, de alegria e de paz! Continue lendo Quando voltaremos à casa paterna?→
A aristocrática Baviera ostenta entre seus tesouros um castelo admirado no mundo inteiro, reconhecido como símbolo não apenas da região onde foi construído, como da própria Alemanha: Neuschwanstein. .
. Continue lendo Sonho ou realidade?→
As aparências enganam — é um dito da sabedoria popular, tantas vezes confirmado no nosso dia a dia. Este dito seria válido para quem tivesse a alegria e a graça de conviver com Jesus?
Mesmo com base nos Evangelhos as respostas podem ser desencontradas: para uns Jesus era apenas “o filho do carpinteiro”, para outros era o Messias tão esperado, o Filho de Deus.
O artigo do Mons. João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho que transcrevemos condensadamente a seguir pode bem esclarecer o assunto.
Por razões várias precisei permanecer na sala de espera de uma faculdade. A sala tinha esta característica — talvez não desejada pelo arquiteto—: dela ouvia-se claramente o que era lecionado numa sala de aulas.
Tinha levado um livro para ler, mas, aos poucos a ênfase com que falava e o assunto exposto pelo professor desviaram minha atenção do livro para a aula.Continue lendo Testemunha ocular?→
Quem trata com crianças na primeira infância, pode a justo título impressionar-se pela exatidão de suas observações, e até perguntar-se como conseguiu alguém tão desprovido de experiência emitir juízos tão simples e acertados.
Tema atualíssimo é tratado pelo Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho no seu comentário ao trecho em que os fariseus julgam fazer uma armadilha a Nosso Senhor.
Mons. João Clá mostra a sagacidade divina de Jesus ao deixar os fariseus sem ter o que dizer, e ao mesmo tempo institui o Sacramento do Matrimônio.
O texto a seguir são excertos. O artigo completo foi publicado pela Libreria Editrice Vaticana. (1)
OS FARISEUS E PUREZA ORIGINAL DO MATRIMÔNIO
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Encontrava-Se o Divino Mestre evangelizando “a região da Judeia, além do Jordão” (Mc 10, 1). Enquanto ensinava as multidões, os fariseus, adeptos de uma moral de exterioridades, “se aproximaram de Jesus. Para pô-Lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. (Mc 10, 2)
Eles, porém, não queriam aprender, mas destruir, como ressalta São Beda: “É de se notar a diferença que há entre o espírito do povo e o dos fariseus: o primeiro vem para ser instruído pelo Senhor, para que cure seus enfermos, […] os últimos, para enganá-Lo, tentando-O”. (1)
Pergunta formulada com perversa intenção
Feriseus
Cientes de que o Redentor já havia defendido o casamento indissolúvel (cf. Mt 5, 31-32), seus adversários quiseram pô-Lo à prova, confrontando-O com Moisés, que permitira o divórcio.
Pretendiam, assim, colocá-Lo numa posição difícil, pois se Ele respondesse com uma negativa, estaria Se pronunciando contra o profeta; se dissesse que sim, rejeitaria sua própria doutrina. Ademais, tanto uma quanto outra solução dividiria a opinião pública, dado que os judeus seguiam as mais variadas tendências a esse respeito.
A Sabedoria Divina desmonta uma armadilha humana
Nosso Senhor é a Sabedoria Eterna e Encarnada, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Para Ele, então, não constituía novidade o fato de Lhe apresentarem tal problema.
Sabendo qual era o péssimo intuito dos fariseus ao montar aquela armadilha, Jesus responde com inteira naturalidade e de modo peremptório, indo diretamente ao ponto aonde tencionavam levá-Lo: “perguntou: ‘O que Moisés vos ordenou?’” (Mc 10, 3)
Uma vez descobertos, tiveram que confessar suas intenções, respondendo: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. (Mc 10, 4)
A lei positiva deformada pela casuística
Com efeito, estava consignado por Moisés que o marido podia despedir sua mulher “por descobrir nela qualquer coisa inconveniente” (Dt 24, 1). Termos muito genéricos, que com o tempo deram margem a numerosas controvérsias.
Discutiam eles os casos em que tal concessão seria cabível, mas se desviaram, chegando a extremos inimagináveis: alguns eram da opinião de que se a mulher deixasse queimar a comida, o marido já tinha motivo suficiente para repudiá-la. (2)
Além de ser uma insensatez que feria o próprio direito natural, a facilitação do divórcio concorria para desvalorizar cada vez mais a mulher e escravizar o homem às suas próprias paixões.
Ora, isto não condizia com o desígnio de Deus ao criar Eva da costela de Adão. Se fosse da vontade d’Ele “que o homem pudesse deixar uma e tomar outra, depois de criar um só varão teria formado muitas mulheres”, (3) pondera São João Crisóstomo.
Uma permissão motivada pela dureza de coração
Ao situar Moisés no centro da discussão, Nosso Senhor põe os fariseus “contra a parede”, pois lhes demonstra que aquela era uma lei humana, embora promulgada sob inspiração divina. O grande legislador não havia errado; todavia, não era senão “Por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Mc 10, 5)
No entanto, o Redentor veio para restabelecera ordem. Tinha Ele o direito de decretar qualquer lei, não só enquanto Deus, mas também enquanto Profeta, previsto pelo próprio Moisés (cf. Dt 18, 15). Por conseguinte, sua palavra valia muito mais que a dele! A fim de evidenciar isto para os fariseus, Ele vai fazer uma afirmação rigorosa, apontando o plano original de Deus a respeito do casamento.
A primitiva pureza do matrimônio é restabelecida
“No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 6-9)
Citando o texto do Gênesis, Se reporta ao princípio da criação, ou seja, ao relacionamento que existia entre homem e mulher antes do pecado: união santa, monogâmica e indissolúvel, em total conformidade com a natureza de ambos. Se esta situação foi alterada, deveu-se à dureza de coração das gerações posteriores.
Não é difícil imaginar o quanto esta sentença do Divino Mestre arranhou os fariseus… Em todas estas contendas, “sempre é Ele quem lhes cose a boca e põe freio ao desaforo de sua língua, e com isso os afasta de Si. Sem embargo, nem assim retrocedem em seu empenho. Tal é naturalmente a malícia, tal a inveja, descarada e insolente”. (4)
Sobre o matrimônio ao longo dos séculos clique aqui
(1) JOÃO SOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, Vol. IV, p. 400-417. Publicado também na revista “Arautos do Evangelho”, nº 166, outubro de 2015, p. 8-17. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui
(2) SÃO BEDA. In Marci Evangelium Expositio. L.III, c.10: ML 92, 229.
(3) Cf. MIDRASH SIFRE DEUT.24, 1, §269. In: BONSIRVEN, SJ, Joseph (Ed.). Textes rabbiniques des deux premiers siècles chrétiens. Roma: Pontificio Instituto Biblico, 1955, p.76.
(4) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía LXII, n.1. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (46-90). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.II, p. 286-287.
Ilustrações: Arautos do Evangelho, hijasmisericordia, wordpress.
O que você diria de alguém que quisesse criar uma organização para conquistar o mundo, e para tal recrutasse pessoas sem instrução, exercendo ofícios pouco cotados, sem praticamente nenhuma projeção social, sem recursos financeiros, etc.?
Dir-se-ia que esse alguém não teria a mínima possibilidade de êxito e talvez fosse taxado de visionário ou inconsequente, pois não estaria reunindo as mínimas condições de sucesso.
E, se fosse possível dar um salto no tempo, ver qual foi resultado, décadas ou séculos depois, o que encontraria?
Mesmo para uma pessoa de cultura mediana é comum, ao mostrarmos determinada obra de arte, exclamar: “É pintura de tal pintor”. Se mostrarmos outra razoavelmente conhecida, ouviremos o nome de seu autor.
Fruto do preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, emana dos tesouros da Cristandade um brilho sobrenatural que os distingue dos monumentos e obras de civilizações pagãs, pois, acima dos valores artísticos, nota-se neles uma bênção pela qual remetem a um plano superior, metafísico, e deste ao divino. Como dizia Dante, as obras de arte dos homens são “netas de Deus”. (1)
Letícia Gonçalves de Sousa
Destacam-se nessa categoria as catedrais medievais, erigidas no tempo em que, segundo a feliz expressão de Leão XIII, “a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos”. (2) No conjunto dessas magníficas construções, brilha com especial esplendor a de Reims, erigida no século XIII em substituição ao templo carolíngio destruído por um incêndio.
Concebida como um hino de glória ao Criador, ela é adornada por2.303 estátuas e enquadrada por duas torres que se elevam a 81 metros de altura, parecendo querer se destacar da Terra e alçar voo em direção ao Céu.
Até 1825, ano em que foi coroado Carlos X, aí se realizavam as cerimônias de sagração dos monarcas da Filha Primogênita da Igreja. Era crença popular que o rei tinha a faculdade de curar os doentes de escrofulose, mal comum naquele tempo. Por isso, à saída do solene ato litúrgico, aqueles infelizes se aproximavam do soberano recém-coroado e este se detinha diante de cada um, dizendo: “Le roi te touche,Dieu te guérit — O rei te toca, Deus te cura”. Bela fórmula que revela a consciência de ser o homem apenas um instrumento nas mãos do Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Este estado de espírito despretensioso do Rei Cristianíssimo reflete-se também na própria simbologia da catedral que, pelo seu élan ascendente, convida todos a se reportarem continuamente ao Criador. As suas altivas torres recordam-nos que toda a nossa existência deve estar ordenada em função da eternidade. Sua singular beleza é obra demãos humanas, mas são as miríades de luzes sobrenaturais, dons de Deus, que a tornam uma verdadeira maravilha.
NO PÓRTICO, A RAINHA
No monumental pórtico de entrada está representada a mais grandiosa e a mais humilde das criaturas: Maria Santíssima. Receptáculo de todas as graças e eleita pelo Pai, sobre Ela pousou o Espírito Santo para gerar em seu claustro virginal o Esperado das nações, Nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, ao receber o entusiástico elogio de Santa Isabel, proclamou Ela sua pequenez e restituiu ao Altíssimo o inapreciável dom recebido: “A minha alma engrandece o Senhor, e exulta meu espírito em Deus meu salvador, pois Ele olhou para o nada de sua serva e desde agora as gerações me proclamarão bem-aventurada” (Lc 1, 46-48).
Se atribuirmos a nós mesmos a glória de eventuais êxitos, jamais gozaremos da felicidade do Reino Celeste. Seguindo, porém, os passos da despretensiosa Soberana da Restituição, alcançaremos as alegrias próprias àqueles que, por terem reconhecido o seu nada, são proclamados bem-aventurados e cantam eternamente nos Céus a glória de Deus.
Eis uma das mais belas lições transmitidas pela magnífica Catedral de Reims.
Houve um tempo em que cada um de nós foi imensamente feliz. “Oh! que saudades eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais!”— canta um famoso poeta brasileiro. Bem soube ele exprimir em seu poema o tempo da nossa inocência primaveril.
Naqueles dias, tudo nos encantava: as cores das asas de uma borboleta, os esforços de uma formiguinha para carregar uma folha muito maior do que ela, os cambiantes desenhos das nuvens, formando ora um rosto, ora a silhueta de algum animal; mais ainda, as árvores de Natal, carregadas de luzinhas e bolas coloridas. Em outras ocasiões, nos maravilhávamos com uma cerimônia na igreja paroquial, ou com um presépio no qual, silenciosos e recolhidos, estavam São José e Nossa Senhora velando o Menino Deus.
Verdade é que, naquele ditoso tempo nossa inocência ainda não enfrentara a luta, a qual se introduz de modo paulatino em nossa vida já nos primeiros anos de escola: o esforço para cumprir o dever, o estar longe do lar, o comportamento agressivo de certas amizades. Com o correr dos anos, outros interesses vão absorvendo nossa atenção, e por fim nosso mundo encantador é, infelizmente, com frequência quebrado e manchado por nossas próprias faltas.
Conservar a inocência até a idade adulta é um dom de Deus, e hoje poucos o conseguem. Contudo, recuperá-la talvez seja dádiva ainda mais preciosa, e isso está ao alcance de todos, por meio do confessionário e da emenda de vida.
Através desse prisma pessoal, podemos considerar devidamente a situação do mundo e nos perguntar, uma vez mais, o que trará este Novo Ano: catástrofes ou alegrias? Se trilharmos as vias do pecado, correremos um sério risco de sermos abalados e arrastados pelos turbilhões amargos dos acontecimentos. Todavia, se nos mantivermos na inocência, ainda que apareçam situações trágicas diante de nós e as calamidades rujam ao nosso redor, conservaremos a alegria, a paz interior e a verdadeira felicidade, na certeza inabalável de que Deus vela por nós.
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(Adaptado da revista Arautos do Evangelho, nº 97, janeiro de 2010, p. 5. Para acessar o exemplar do corrente mês clique aqui )