Aparência e realidade

As aparências enganam — é um dito da sabedoria popular, tantas vezes confirmado no nosso dia a dia. Este dito seria válido para quem tivesse a alegria e a graça de conviver com Jesus?

Mesmo com base nos Evangelhos as respostas podem ser desencontradas: para uns Jesus era apenas “o filho do carpinteiro”, para outros era o Messias tão esperado, o Filho de Deus.

O artigo do Mons. João Clá, fundador dos Arautos do Evangelho que transcrevemos condensadamente a seguir pode bem esclarecer o assunto.


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Justiça ou perdão?

Que estamos num mundo cheio de injustiças é quase dizer o óbvio. O grande risco é, à vista disso, esfriar-se na alma de muitos a vontade de perdoar. Especialmente quando esses atos se voltam contra nós.

As palavras a seguir, de autoria do Monsenhor João Clá Dias, EP, fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, pode ser de utilidade para muitos de nossos visitantes. Continue lendo Justiça ou perdão?

JESUS, OS FARISEUS E A FAMÍLIA

 

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Tema atualíssimo é tratado pelo Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho no seu comentário ao trecho em que os fariseus julgam fazer uma armadilha a Nosso Senhor.

Mons. João Clá mostra a sagacidade divina de Jesus ao deixar os fariseus sem ter o que dizer, e ao mesmo tempo institui o Sacramento do Matrimônio.

O texto a seguir são excertos. O artigo completo foi publicado pela Libreria Editrice Vaticana. (1)

 

OS FARISEUS E PUREZA ORIGINAL DO MATRIMÔNIO

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Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

 

Encontrava-Se o Divino Mestre evangelizando “a região da Judeia, além do Jordão” (Mc 10, 1). Enquanto ensinava as multidões, os fariseus, adeptos de uma moral de exterioridades, “se aproximaram de Jesus. Para pô-Lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. (Mc 10, 2)

Eles, porém, não queriam aprender, mas destruir, como ressalta São Beda: “É de se notar a diferença que há entre o espírito do povo e o dos fariseus: o primeiro vem para ser instruído pelo Senhor, para que cure seus enfermos, […] os últimos, para enganá-Lo, tentando-O”. (1)

Pergunta formulada com perversa intenção

Feriseus
Feriseus

Cientes de que o Redentor já havia defendido o casamento indissolúvel (cf. Mt 5, 31-32), seus adversários quiseram pô-Lo à prova, confrontando-O com Moisés, que permitira o divórcio.

Pretendiam, assim, colocá-Lo numa posição difícil, pois se Ele respondesse com uma negativa, estaria Se pronunciando contra o profeta; se dissesse que sim, rejeitaria sua própria doutrina. Ademais, tanto uma quanto outra solução dividiria a opinião pública, dado que os judeus seguiam as mais variadas tendências a esse respeito.

A Sabedoria Divina desmonta uma armadilha humana

Nosso Senhor é a Sabedoria Eterna e Encarnada, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Para Ele, então, não constituía novidade o fato de Lhe apresentarem tal problema.

Sabendo qual era o péssimo intuito dos fariseus ao montar aquela armadilha, Jesus responde com inteira naturalidade e de modo peremptório, indo diretamente ao ponto aonde tencionavam levá-Lo: “perguntou: ‘O que Moisés vos ordenou?’” (Mc 10, 3)

Uma vez descobertos, tiveram que confessar suas intenções, respondendo: “Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la”. (Mc 10, 4)

A lei positiva deformada pela casuística

Com efeito, estava consignado por Moisés que o marido podia despedir sua mulher “por descobrir nela qualquer coisa inconveniente” (Dt 24, 1). Termos muito genéricos, que com o tempo deram margem a numerosas controvérsias.

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Discutiam eles os casos em que tal concessão seria cabível, mas se desviaram, chegando a extremos inimagináveis: alguns eram da opinião de que se a mulher deixasse queimar a comida, o marido já tinha motivo suficiente para repudiá-la. (2)

Além de ser uma insensatez que feria o próprio direito natural, a facilitação do divórcio concorria para desvalorizar cada vez mais a mulher e escravizar o homem às suas próprias paixões.

Ora, isto não condizia com o desígnio de Deus ao criar Eva da costela de Adão. Se fosse da vontade d’Ele “que o homem pudesse deixar uma e tomar outra, depois de criar um só varão teria formado muitas mulheres”, (3) pondera São João Crisóstomo.

Uma permissão motivada pela dureza de coração

Ao situar Moisés no centro da discussão, Nosso Senhor põe os fariseus “contra a parede”, pois lhes demonstra que aquela era uma lei humana, embora promulgada sob inspiração divina. O grande legislador não havia errado; todavia, não era senão “Por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento”. Mc 10, 5)

Fariseu  confundido pelas palavras de Jesus
Fariseu confundido pelas palavras de Jesus

No entanto, o Redentor veio para restabelecera ordem. Tinha Ele o direito de decretar qualquer lei, não só enquanto Deus, mas também enquanto Profeta, previsto pelo próprio Moisés (cf. Dt 18, 15). Por conseguinte, sua palavra valia muito mais que a dele! A fim de evidenciar isto para os fariseus, Ele vai fazer uma afirmação rigorosa, apontando o plano original de Deus a respeito do casamento.

A primitiva pureza do matrimônio é restabelecida

“No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!” (Mc 10, 6-9)

Citando o texto do Gênesis, Se reporta ao princípio da criação, ou seja, ao relacionamento que existia entre homem e mulher antes do pecado: união santa, monogâmica e indissolúvel, em total conformidade com a natureza de ambos. Se esta situação foi alterada, deveu-se à dureza de coração das gerações posteriores.

Não é difícil imaginar o quanto esta sentença do Divino Mestre arranhou os fariseus… Em todas estas contendas, “sempre é Ele quem lhes cose a boca e põe freio ao desaforo de sua língua, e com isso os afasta de Si. Sem embargo, nem assim retrocedem em seu empenho. Tal é naturalmente a malícia, tal a inveja, descarada e insolente”. (4)

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Sobre o matrimônio ao longo dos séculos   clique aqui

 

(1) JOÃO SOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, Vol. IV, p. 400-417. Publicado também na revista “Arautos do Evangelho”, nº 166, outubro de 2015, p. 8-17. Para acessar a revista Arautos do Evangelho do corrente mês clique aqui 

(2) SÃO BEDA. In Marci Evangelium Expositio. L.III, c.10: ML 92, 229.

(3) Cf. MIDRASH SIFRE DEUT.24, 1, §269. In: BONSIRVEN, SJ, Joseph (Ed.). Textes rabbiniques des deux premiers siècles chrétiens. Roma: Pontificio Instituto Biblico, 1955, p.76.

(4) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía LXII, n.1. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (46-90). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.II, p. 286-287.

 

Ilustrações: Arautos do Evangelho, hijasmisericordia, wordpress.

ESCOLHA SÁBIA

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O que você diria de alguém que quisesse criar uma organização para conquistar o mundo, e para tal recrutasse pessoas sem instrução, exercendo ofícios pouco cotados, sem praticamente nenhuma projeção social, sem recursos financeiros, etc.?

Dir-se-ia que esse alguém não teria a mínima possibilidade de êxito e talvez fosse taxado de visionário ou inconsequente, pois não estaria reunindo as mínimas condições de sucesso.

E, se fosse possível dar um salto no tempo, ver qual foi resultado, décadas ou séculos depois, o que encontraria?

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RECUSARÁS ESTE AMOR?

Uma das situações mais próprias a despertar a confiança e o amor a alguém é saber-se também amado por aquele a quem amamos. Há, porém, uma outra situação que nos leva a amar ainda com mais intensidade e afeto este alguém: é saber que ele nos amou antes de nós o conhecermos, que por amor a nós fez maravilhas e padeceu atrozmente para manifestar esse amor. É sobre esse amor que trata o Mons. João Clá, Fundador e Superior Geral dos Arautos do Evangelho no artigo que a seguir transcrevemos.

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UM GRANDE MOSAICO

Mesmo para uma pessoa de cultura mediana é comum, ao mostrarmos determinada obra de arte, exclamar: “É pintura de tal pintor”. Se mostrarmos outra razoavelmente conhecida, ouviremos o nome de seu autor.

Por que?

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O CORAÇÃO QUE NOS AMOU ATÉ O FIM

………… Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

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Ao considerar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, corremos o risco de ficar muito aquém do tesouro de bondade e misericórdia que essa forma de piedade coloca à disposição dos fiéis. Porque o Coração de Jesus é o tabernáculo mais autêntico e substancial das três Pessoas da Santíssima Trindade e, em consequência, não há melhor meio de adorar o Pai, o Filho e o Espírito Santo do que através d’Ele.

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Fazer um esquilo?

O Mons. João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho usa imagens inesperadas para explicar as coisas mais profundas. Não é sem razão que sua mais recente obra, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, “O inédito dos Evangelhos”, tem esse título.

Por que pertencemos a Deus? Por que lhe devemos obediência? Por que devemos prestar-Lhe culto?

Essas e outras perguntas ficam respondidas no texto a seguir, de autoria do Mons. João Clá.

PERTENCEMOS A CRISTO POR NATUREZA E POR CONQUISTA

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Se algum de nós obtivesse poder para tirar do nada um esquilo, consideraria, com toda justiça, esse ser vivo inteiramente seu, pois, se não fosse pela sua ação criadora, o animal jamais teria começado a existir. Julgar-se-ia, portanto, com toda liberdade para mandá-lo subir no seu ombro, levá-lo para brincar no jardim, ou até trancá-lo numa gaiola, caso quisesse fugir. E se, em lugar de possuir uma mera natureza irracional, o animalzinho tivesse a capacidade de pensar, deveria tributar uma gratidão sem limites a quem lhe deu a vida.

Tendo sido tirados do nada pelo Criador, Ele Se tornou credor de nosso reconhecimento como Senhor pleno e absoluto. “Se Deus é todo-poderoso ‘no Céu e na Terra’ (Sl 135, 6), é porque os fez. Por isso, nada Lhe é impossível, e Ele dispõe à vontade de sua obra; Ele é o Senhor do universo”, ⁽¹⁾ ensina o Catecismo da Igreja Católica. E São Luís Maria Grignion de Montfort, o célebre Santo da devoção mariana, afirma: “Por natureza, todas as criaturas são escravas de Deus”. ⁽²⁾ Ora, não somos esquilos, nem plantas, nem minerais, mas criaturas racionais que, pelo pecado original, haviam perdido a possibilidade de herdar o Reino Celeste e de gozar eternamente do convívio com as três Pessoas da Santíssima Trindade.

Cristo Rei – Palermo – Itália

Para reparar tal perda, o Verbo Se fez carne, morreu crucificado e ressuscitou. Esse incomensurável ato de amor abriu-nos as portas do Céu e restabeleceu, através do Batismo e da graça, o gênero de relacionamento havido no Paraíso com o Criador. Em consequência, Cristo passou a ser Senhor do universo também por direito de conquista. “Pertencemos Àquele que nos redimiu, Àquele que por nós venceu o mundo, não com armas de guerra, mas com a irrisão da Cruz”, ⁽³⁾ afirma Santo Agostinho. E São Luís Grignion acrescenta: “Não nos pertencemos a nós, como diz o Apóstolo (cf. I Cor 6, 19; 12, 27), e sim a Ele, inteiramente, como seus membros e seus escravos, comprados que fomos por um preço infinitamente caro, o preço de seu Sangue.

Antes do Batismo o demônio nos possuía como escravos, e o Batismo nos transformou em verdadeiros escravos de Jesus Cristo; e só devemos viver, trabalhar e morrer para produzir frutos para este Homem-Deus, glorificá-Lo em nosso corpo e fazê-Lo reinar em nossa alma, pois somos sua conquista, seu povo adquirido, sua herança (cf. Rm 7, 4; I Pd 2, 9)”. ⁽⁴⁾

Cristo Redentor (Corcovado) Bela afirmação da realeza de Jesus sobre o Brasil

Assim, por sua Morte e Ressurreição, tornou-Se o Verbo Encarnado Senhor por excelência de todos os homens, tanto no tocante à sua natureza divina quanto à humana. Enquanto Deus, Cristo tem direito sobre todos os seres criados, não apenas por tê-los tirado do nada, como também por sustentá-los na existência a cada instante, conforme canta o salmista: “Se desviais o rosto, eles se perturbam; se lhes retirais o sopro, expiram e voltam ao pó de onde saíram” (Sl 103, 29).

Ao nos redimir, essa relação de servidão entre a criatura e o Criador estendeu-se também à sua humanidade divina, pois “a Ascensão de Cristo ao Céu significa sua participação, em sua humanidade, no poder e na autoridade do próprio Deus. Jesus Cristo é Senhor: possui todo poder nos Céus e na Terra”. ⁽⁵⁾

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⁽¹⁾ CCE 269.
⁽²⁾ SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n.70. In: OEuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p.531.
⁽³⁾ SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LXII, n.20. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.590.
⁽⁴⁾ SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, op. cit., n.68, p.530.
⁽⁵⁾ CCE 668.

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Texto: Mons. João Scognamiglio Clá Dias, “O inédito dos Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013, Vol. II, pp.115-117.

Autenticidade, fundamento do apostolado

Qual o “segredo” pelo qual alguns têm fruto no apostolado que fazem e outros não têm?

O “segredo” é revelado pelo Mons. João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, no texto que damos a seguir (*).

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SE QUEREMOS SER SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO, TEMOS QUE SER ÍNTEGROS

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

O Evangelho expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal. Sem dúvida, é mister abraçar a perfeição para contemplar o Criador face a face por toda a eternidade no Céu, o mais precioso dom que possamos obter; e precisamos ser virtuosos, porque o exige a glória de Deus, para tal fomos criados e disso prestaremos contas.

Entretanto, Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sal e luz para o mundo!

Enquanto sal, devemos empenhar-nos em fazer bem aos demais, pois temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé e no propósito de honrar a Deus. São eles credores de nosso apoio colateral, como membros do Corpo Místico de Cristo.

E seremos luz na medida em que nos santificarmos. Deste modo, nossa diligência, aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência, de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que recebemos.

Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!” (Mt 25, 40).

Pelo contrário, se sou orgulhoso, egoísta ou vaidoso, se somente me preocupo em chamar a atenção sobre mim, significa que me converti num sal insosso que já não salga mais, e privo os outros de meu amparo; se sou preguiçoso, significa que apaguei a luz de Deus em minha alma e já não proporciono a iluminação que muitas pessoas necessitam para ver com clareza o caminho a seguir. E devo me preparar para ouvir a terrível condenação de Jesus: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).

Em última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz que não ilumina são o fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante.

Nossa Senhora Auxiliadora

Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.

Peçamos, pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os confins da Terra.

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(*) Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013, vol. II, p. 65-67.

Almas que têm medo de Jesus

Em nosso dia a dia é comum encontrarmos pessoas que quereriam ser melhores mas que cometem faltas, às vezes frequentes. Muitas destas almas sentem o peso de suas faltas e acham que, se procurarem o perdão, não o obterão. Veem o contraste entre a infinita santidade e pureza de Deus e a sua situação de pecado.

O texto transcrito a seguir, de autoria do Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, deixa claro o que devem pensar estas almas ainda abertas a corrigir-se mas que receiam aproximar-se de Deus três vezes Santo.

Jesus veio para perdoar

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Os Evangelhos são o testamento da Misericórdia. O anúncio do maior ato de bondade havido em toda a obra da criação — a Encarnação do Verbo — é o frontispício, a bela abertura de sua narração. A chave de ouro com a qual esta termina deixa-nos sem saber se ainda não é mais bela e comovedora: a crucifixão e morte de Cristo Jesus para restabelecer a harmonia entre Deus e a humanidade.

A Bondade divina une substanciosamente esses dois extremos, a Gruta de Belém e o Calvário, através de uma sequência riquíssima em acontecimentos escachoantes de amor pelos miseráveis: “Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10). Essa alegria de Jesus em perdoar transparece nas doutrinas, conselhos e até mesmo nas parábolas por Ele elaboradas a fim de que seus ouvintes melhor entendessem sua misericórdia, como, por exemplo, a do filho pródigo (Lc 15, 11-32), a da ovelha desgarrada (Lc 15, 4-7) e a da dracma perdida (Lc 15, 8-10). A euforia de quem encontra, em qualquer dos três casos, reflete o contentamento do próprio Cristo ao promover o retorno de uma alma às vias da graça.

Jesus perdoa a mulher adúltera

Ele é o Bom Pastor que ao apanhar a ovelha imprudentemente destacada do rebanho, a reconduz ao redil, a fim de infundir-lhe nova vida de maneira superabundante. E Ele a leva sobre seus próprios ombros, enquanto os Céus se enchem de um júbilo ainda maior do que o causado pela perseverança dos justos (cf. Jo 10, 11-16; Lc 15, 4-7).

Dentro dessa atmosfera de amor, jamais vimos Jesus, ao longo de sua vida pública, tomar a menor atitude depreciativa em relação a quem quer que fosse: samaritanos, centurião, cananéia, publicanos, etc. A todos invariavelmente atendia com divina atenção e carinho: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Nenhuma pessoa d’Ele se aproximou em busca de uma cura, perdão ou consolo, sem ser plenamente atendida. Tal foi seu infinito empenho em fazer o bem, sobretudo aos mais necessitados: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2, 17); “o Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu; e enviou-Me (…) para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). O próprio Apóstolo dirá mais tarde: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro” (1 Tm 1, 15).

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(Trecho de “A Lei ou a Bondade?”, in Revista Arautos do Evangelho, nº 63, março de 2007, p.10-12. O conjunto dos comentários do Mons. João Scognamiglio Clá Dias estão publicados em “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013.)