CASA DE RICOS E POBRES

Pe. Francisco Teixeira de Araújo, EP

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Qual a finalidade de uma igreja? Ora, dirá alguém: a igreja é o lugar onde se presta culto a Deus. Desde tempos imemoriais, sempre foi essa sua finalidade.

Os pagãos, na antiguidade —egípcios, gregos, romanos — multiplicaram os templos para deuses tão numerosos quanto falsos. Salomão, rei dos judeus, construiu uma das maravilhas do mundo antigo, o templo de Jerusalém, dedicado ao único e verdadeiro Deus.

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O CORAÇÃO QUE NOS AMOU ATÉ O FIM

………… Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

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Ao considerar a devoção ao Sagrado Coração de Jesus, corremos o risco de ficar muito aquém do tesouro de bondade e misericórdia que essa forma de piedade coloca à disposição dos fiéis. Porque o Coração de Jesus é o tabernáculo mais autêntico e substancial das três Pessoas da Santíssima Trindade e, em consequência, não há melhor meio de adorar o Pai, o Filho e o Espírito Santo do que através d’Ele.

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Alegria no Colégio

Os alunos do Colégio Estadual La Salle tiveram uma “surpresa extra-curricular”: o conjunto musical dos Arautos do Evangelho fez para eles a apresentação de músicas pitorescas como costuma ser no Projeto Futuro e Vida.

As atuações do Projeto visam motivar o jovem a desenvolver sua cultura e o gosto pelas artes cênicas e musicais, através de um ensino vivo e rico em ética, história e cidadania; oferecer o esporte como meio de lazer, ajudando na formação de uma mente sã num corpo sadio.

Tratando-se de uma proposta cultural, o Projeto Futuro e Vida quer proporcionar às novas gerações a alegria do bom comportamento e da retidão, oferecendo por meio da música, do teatro e do esporte, uma nova opção para a juventude, a fim de formar um mundo melhor.

Padre Ryan Murphy recolhe impressões dos alunos

Esta atividade cultural-humanitária visa incutir no coração de cada aluno um sadio ideal, para que ele se torne um difusor desses valores na sociedade. Damos com isso uma oportunidade para melhorar o rendimento escolar, a qualidade de vida e a inclusão social.

O Padre Ryan Murphy, EP, assistente espiritual dos Arautos em Curitiba, fez uma pequena introdução explicando quem somos e no que consiste o Projeto: música, teatro e defesa pessoal.

A apresentação musical é muito participativa: ora os alunos devem identificar de que país é uma música, ora darem sua opinião sobre algum trecho ou instrumento tocado.

A seguir é apresentado individualmente cada instrumento: A percussão com um toque próprio, a tuba como o mais grave em matéria de som, o trombone cuja peculiaridade é a vara, a trompa o instrumento mais cumprido em extensão se for desenrolado, e por último os trompetes, que fazem melodia principal da música.

Termina-se a apresentação somente com os instrumentos de percussão, chamado com um toque “Desafio”, pois eles vão tentar fazer os três elementos da música através do som de cada um com seus matizes e dos movimentos de baqueta no ar, fazendo assim a harmonia.

Nos vários momentos em que os alunos acertam responder questões levantadas, ganham uma flauta. E em geral já saem tocando-a…

Foram muito gratificantes os agradecimentos e incentivos da Direção e professores no final da apresentação.

Simpósio para Cooperadores

Os Cooperadores dos Arautos do Evangelho são pessoas ou famílias que, além de suas obrigações sociais ou de trabalho, dedicam parte de seu tempo em colaborar com os Arautos nas tarefas de evangelização, especialmente nos ambientes em que vivem ou trabalham. Nos recentes feriados tiveram oportunidade de participar de um Simpósio sobre a Santa Missa.

Como vários testemunharam, foi-lhes de grande proveito, pois muito do exposto lhes era desconhecido ou pouco conhecido. Puderam assim compreender melhor o valor e significado de cada parte da Missa, de cada cerimônia, gestos e palavras que compõem esta bela liturgia.

Encerrando o simpósio, ao assistirem a Missa, celebrada pelo Pe. Ryan Murphy, EP, puderam tirar melhor proveito espiritual, pois, como viram nas palestras, a Missa é muito densa de significados por constituir a cerimonia central da Liturgia católica: é a celebração da Eucaristia. Nela Jesus se faz realmente presente sob as espécies de pão e vinho e podemos ter a honra imerecida de recebê-Lo sacramentalmente.

Nessa Missa houve a recepção das Cinzas que marcam o início da quaresma, a preparação para celebrar a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus na Semana Santa.

Seguiu-se uma confraternização, com o chamado “almoço quaresmal”, por ser dia de jejum e abstinência.

Feriados bem aproveitados

Feriados, por vezes, costumam ser apenas um descanso para o corpo — e muitas vezes também para a alma — “moídos” pelas absorventes (e fatigantes) ocupações do dia a dia. Não foi o que aconteceu no ambiente dos Arautos do Evangelho nestes recentes feriados.

Os participantes das atividades — jovens aspirantes ou participantes do Projeto “Futuro e Vida” — pareciam ter passado por um local que conhecemos, onde havia um letreiro: “Se você não tem o que fazer, não o faça aqui”. Em todo caso tiveram muito em que se ocupar para aproveitar os feriados em coisas úteis, elevadas e ao mesmo tempo distensivas e entretidas.

Realizaram uma série de jogos na área que dispõem os Arautos em pleno campo próximo a Piraquara. Destes jogos tiveram grande participação os alunos dos colégios João Loyola, Pedro Macedo e Bambinatta inscritos no Projeto Futuro e Vida.

As atividades na casa em Curitiba foram mais direcionadas aos aspirantes com palestras ilustradas sobre a Santa Missa: o valor infinito da renovação do Sacrifício do Calvário, o significado de cada parte de sua liturgia, dos símbolos, gestos, orações e leituras, repostas, etc. O Pe. Ryan Murphy ministrou as palestras, despertando vivo interesse dos jovens assistentes, muitos dos quais desconheciam vários desses aspectos. Chamou a atenção a avidez com que os aspirantes acompanhavam as várias explicações, fazendo frequentes perguntas.

A Missa celebrada a seguir foi, assim, acompanhada com maior proveito, pois agora entendiam o sentido profundo das várias partes. Em vários momentos desses dias houve exposição e Adoração do Santíssimo Sacramento, nas quais a nota dominante no ambiente era o recolhimento e o fervor diante do diante de Jesus Eucarístico exposto solenemente. Durante algumas dessas ocasiões, Arautos e aspirantes rezaram a Liturgia das Horas, também conhecida como Ofício Divino.

Missa na casa dos Arautos do Evangelho

Houve ainda treino de músicas, especialmente das orações cantadas antes e depois das refeições, como é costume nas casas de vida comum dos Arautos do Evangelho.

Tivemos ainda a alegria de ver constituído um novo grupo de aspirantes — grupo São Pedro — e a entrega de lembranças no final das atividades.

Foram feriados bem aproveitados.

Fazer um esquilo?

O Mons. João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho usa imagens inesperadas para explicar as coisas mais profundas. Não é sem razão que sua mais recente obra, publicada pela Libreria Editrice Vaticana, “O inédito dos Evangelhos”, tem esse título.

Por que pertencemos a Deus? Por que lhe devemos obediência? Por que devemos prestar-Lhe culto?

Essas e outras perguntas ficam respondidas no texto a seguir, de autoria do Mons. João Clá.

PERTENCEMOS A CRISTO POR NATUREZA E POR CONQUISTA

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Se algum de nós obtivesse poder para tirar do nada um esquilo, consideraria, com toda justiça, esse ser vivo inteiramente seu, pois, se não fosse pela sua ação criadora, o animal jamais teria começado a existir. Julgar-se-ia, portanto, com toda liberdade para mandá-lo subir no seu ombro, levá-lo para brincar no jardim, ou até trancá-lo numa gaiola, caso quisesse fugir. E se, em lugar de possuir uma mera natureza irracional, o animalzinho tivesse a capacidade de pensar, deveria tributar uma gratidão sem limites a quem lhe deu a vida.

Tendo sido tirados do nada pelo Criador, Ele Se tornou credor de nosso reconhecimento como Senhor pleno e absoluto. “Se Deus é todo-poderoso ‘no Céu e na Terra’ (Sl 135, 6), é porque os fez. Por isso, nada Lhe é impossível, e Ele dispõe à vontade de sua obra; Ele é o Senhor do universo”, ⁽¹⁾ ensina o Catecismo da Igreja Católica. E São Luís Maria Grignion de Montfort, o célebre Santo da devoção mariana, afirma: “Por natureza, todas as criaturas são escravas de Deus”. ⁽²⁾ Ora, não somos esquilos, nem plantas, nem minerais, mas criaturas racionais que, pelo pecado original, haviam perdido a possibilidade de herdar o Reino Celeste e de gozar eternamente do convívio com as três Pessoas da Santíssima Trindade.

Cristo Rei – Palermo – Itália

Para reparar tal perda, o Verbo Se fez carne, morreu crucificado e ressuscitou. Esse incomensurável ato de amor abriu-nos as portas do Céu e restabeleceu, através do Batismo e da graça, o gênero de relacionamento havido no Paraíso com o Criador. Em consequência, Cristo passou a ser Senhor do universo também por direito de conquista. “Pertencemos Àquele que nos redimiu, Àquele que por nós venceu o mundo, não com armas de guerra, mas com a irrisão da Cruz”, ⁽³⁾ afirma Santo Agostinho. E São Luís Grignion acrescenta: “Não nos pertencemos a nós, como diz o Apóstolo (cf. I Cor 6, 19; 12, 27), e sim a Ele, inteiramente, como seus membros e seus escravos, comprados que fomos por um preço infinitamente caro, o preço de seu Sangue.

Antes do Batismo o demônio nos possuía como escravos, e o Batismo nos transformou em verdadeiros escravos de Jesus Cristo; e só devemos viver, trabalhar e morrer para produzir frutos para este Homem-Deus, glorificá-Lo em nosso corpo e fazê-Lo reinar em nossa alma, pois somos sua conquista, seu povo adquirido, sua herança (cf. Rm 7, 4; I Pd 2, 9)”. ⁽⁴⁾

Cristo Redentor (Corcovado) Bela afirmação da realeza de Jesus sobre o Brasil

Assim, por sua Morte e Ressurreição, tornou-Se o Verbo Encarnado Senhor por excelência de todos os homens, tanto no tocante à sua natureza divina quanto à humana. Enquanto Deus, Cristo tem direito sobre todos os seres criados, não apenas por tê-los tirado do nada, como também por sustentá-los na existência a cada instante, conforme canta o salmista: “Se desviais o rosto, eles se perturbam; se lhes retirais o sopro, expiram e voltam ao pó de onde saíram” (Sl 103, 29).

Ao nos redimir, essa relação de servidão entre a criatura e o Criador estendeu-se também à sua humanidade divina, pois “a Ascensão de Cristo ao Céu significa sua participação, em sua humanidade, no poder e na autoridade do próprio Deus. Jesus Cristo é Senhor: possui todo poder nos Céus e na Terra”. ⁽⁵⁾

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⁽¹⁾ CCE 269.
⁽²⁾ SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n.70. In: OEuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p.531.
⁽³⁾ SANTO AGOSTINHO. Enarratio in psalmum LXII, n.20. In: Obras. Madrid: BAC, 1965, v.XX, p.590.
⁽⁴⁾ SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT, op. cit., n.68, p.530.
⁽⁵⁾ CCE 668.

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Texto: Mons. João Scognamiglio Clá Dias, “O inédito dos Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013, Vol. II, pp.115-117.

Bom começo

O Colégio Arautos do Evangelho em Curitiba teve estas primeiras semanas bem promissoras.

Tanto os alunos, seus pais, como nós somos gratos pelo ensino ministrado pelo corpo docente sob a coordenação da Profª Heloísa Alves Passarella. As aulas deste início de ano letivo prometem muito, sobretudo se os alunos demonstrarem o mesmo empenho que tiveram no ano passado… ou mais.

No início da terceira semana de aulas houve a primeira reunião dos pais e professores visando garantir a boa continuidade do que já foi feito. Os pais demonstraram contentamento pelo que foi decidido após um amigável debate.

Os alunos prepararam uma peça teatral-surpresa para os pais: “O mundo de hoje”. E saíram-se muito bem.

Logo a seguir o Pe. Antônio Guerra, EP, provincial dos Arautos para a região Sudeste, celebrou para todos, a Missa acompanhada pelo Coral.

Neste ano, em várias outras cidades foram abertos Colégios Arautos do Evangelho, e pelas noticias que nos chegam, dão idênticas esperanças as dos Colégios já existentes anteriormente.

Autenticidade, fundamento do apostolado

Qual o “segredo” pelo qual alguns têm fruto no apostolado que fazem e outros não têm?

O “segredo” é revelado pelo Mons. João Clá, EP, fundador dos Arautos do Evangelho, no texto que damos a seguir (*).

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SE QUEREMOS SER SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO, TEMOS QUE SER ÍNTEGROS

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

O Evangelho expressa com muita clareza a obrigação de cuidarmos de nossa vida espiritual não só pelo desejo da salvação pessoal. Sem dúvida, é mister abraçar a perfeição para contemplar o Criador face a face por toda a eternidade no Céu, o mais precioso dom que possamos obter; e precisamos ser virtuosos, porque o exige a glória de Deus, para tal fomos criados e disso prestaremos contas.

Entretanto, Nosso Senhor nos quer santos também com vistas a sermos sal e luz para o mundo!

Enquanto sal, devemos empenhar-nos em fazer bem aos demais, pois temos a responsabilidade de lhes tornar a vida aprazível, sustentando-os na fé e no propósito de honrar a Deus. São eles credores de nosso apoio colateral, como membros do Corpo Místico de Cristo.

E seremos luz na medida em que nos santificarmos. Deste modo, nossa diligência, aplicação e zelo no cumprimento dos Mandamentos servirá ao próximo de referência, de orientação pelo exemplo, fazendo com que ele se beneficie das graças que recebemos.

Assim, seremos acolhidos por Nosso Senhor, no dia do Juízo, com estas consoladoras palavras: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim mesmo que o fizestes!” (Mt 25, 40).

Pelo contrário, se sou orgulhoso, egoísta ou vaidoso, se somente me preocupo em chamar a atenção sobre mim, significa que me converti num sal insosso que já não salga mais, e privo os outros de meu amparo; se sou preguiçoso, significa que apaguei a luz de Deus em minha alma e já não proporciono a iluminação que muitas pessoas necessitam para ver com clareza o caminho a seguir. E devo me preparar para ouvir a terrível condenação de Jesus: “Em verdade Eu vos declaro: todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer” (Mt 25, 45).

Em última análise, tanto o sal que não salga quanto a luz que não ilumina são o fruto da falta de integridade. O discípulo, para ser sal e para ser luz, deve ser um reflexo fiel do Absoluto, que é Deus, e, portanto, nunca ceder ao relativismo, vivendo na incoerência de ser chamado a representar a verdade e fazê-lo de forma ambígua e vacilante.

Nossa Senhora Auxiliadora

Procedendo desta maneira, nosso testemunho de nada vale e nos tornamos sal que só serve “para ser jogado fora e ser pisado pelos homens”. Quem convence é o discípulo íntegro que reflete em sua vida a luz trazida pelo Salvador dos homens.

Peçamos, pois, à Auxiliadora dos Cristãos que faça de cada um de nós verdadeiras tochas que ardem na autêntica caridade e iluminam para levar a luz de Cristo até os confins da Terra.

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(*) Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013, vol. II, p. 65-67.

Almas que têm medo de Jesus

Em nosso dia a dia é comum encontrarmos pessoas que quereriam ser melhores mas que cometem faltas, às vezes frequentes. Muitas destas almas sentem o peso de suas faltas e acham que, se procurarem o perdão, não o obterão. Veem o contraste entre a infinita santidade e pureza de Deus e a sua situação de pecado.

O texto transcrito a seguir, de autoria do Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, fundador e Superior dos Arautos do Evangelho, deixa claro o que devem pensar estas almas ainda abertas a corrigir-se mas que receiam aproximar-se de Deus três vezes Santo.

Jesus veio para perdoar

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Os Evangelhos são o testamento da Misericórdia. O anúncio do maior ato de bondade havido em toda a obra da criação — a Encarnação do Verbo — é o frontispício, a bela abertura de sua narração. A chave de ouro com a qual esta termina deixa-nos sem saber se ainda não é mais bela e comovedora: a crucifixão e morte de Cristo Jesus para restabelecer a harmonia entre Deus e a humanidade.

A Bondade divina une substanciosamente esses dois extremos, a Gruta de Belém e o Calvário, através de uma sequência riquíssima em acontecimentos escachoantes de amor pelos miseráveis: “Pois o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19, 10). Essa alegria de Jesus em perdoar transparece nas doutrinas, conselhos e até mesmo nas parábolas por Ele elaboradas a fim de que seus ouvintes melhor entendessem sua misericórdia, como, por exemplo, a do filho pródigo (Lc 15, 11-32), a da ovelha desgarrada (Lc 15, 4-7) e a da dracma perdida (Lc 15, 8-10). A euforia de quem encontra, em qualquer dos três casos, reflete o contentamento do próprio Cristo ao promover o retorno de uma alma às vias da graça.

Jesus perdoa a mulher adúltera

Ele é o Bom Pastor que ao apanhar a ovelha imprudentemente destacada do rebanho, a reconduz ao redil, a fim de infundir-lhe nova vida de maneira superabundante. E Ele a leva sobre seus próprios ombros, enquanto os Céus se enchem de um júbilo ainda maior do que o causado pela perseverança dos justos (cf. Jo 10, 11-16; Lc 15, 4-7).

Dentro dessa atmosfera de amor, jamais vimos Jesus, ao longo de sua vida pública, tomar a menor atitude depreciativa em relação a quem quer que fosse: samaritanos, centurião, cananéia, publicanos, etc. A todos invariavelmente atendia com divina atenção e carinho: “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).

Nenhuma pessoa d’Ele se aproximou em busca de uma cura, perdão ou consolo, sem ser plenamente atendida. Tal foi seu infinito empenho em fazer o bem, sobretudo aos mais necessitados: “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mc 2, 17); “o Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu; e enviou-Me (…) para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19). O próprio Apóstolo dirá mais tarde: “Jesus Cristo veio a este mundo para salvar os pecadores, dos quais sou eu o primeiro” (1 Tm 1, 15).

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(Trecho de “A Lei ou a Bondade?”, in Revista Arautos do Evangelho, nº 63, março de 2007, p.10-12. O conjunto dos comentários do Mons. João Scognamiglio Clá Dias estão publicados em “O inédito sobre os Evangelhos”, Libreria Editrice Vaticana, 2013.)

Mudança de padrões

Em post anterior (Divina sagacidade) vimos como Jesus escolheu um local estratégico para sua pregação. Vejamos agora a ocasião propícia escolhida pelo Divino Mestre para apresentar a síntese dos seus ensinamentos no Sermão da Montanha.

Para tal, são muito apropriadas as considerações do Mons. João Clá, EP, fundador e Superior dos Arautos do Evangelho na introdução de seus comentários ao Sermão da Montanha, em recente publicação da Libreria Editrice Vaticana. ⁽¹⁾

JESUS PROCLAMA UMA DOUTRINA INOVADORA

Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Vários meses haviam transcorrido desde o início da vida pública de Jesus. Encontrava-se Ele agora nas redondezas de Cafarnaum, junto ao Mar de Tiberíades, aonde tinham ido para ouvi-Lo e serem curadas “pessoas de toda a Judeia, e de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia” (Lc 6, 17).

Acabava Jesus de escolher doze dentre seus discípulos, aos quais dera o nome de Apóstolos (cf. Lc 6, 13-16), preparando assim a fundação da sua Igreja. Era essa a ocasião propícia para apresentar de público uma suma dos ensinamentos que a Esposa de Cristo, ao longo dos séculos, haverá de guardar, defender e anunciar a todos os povos. É o que Nosso Senhor vai fazer no Sermão da Montanha, verdadeira síntese do Evangelho e píncaro da perfeição da Nova Lei. Servem-lhe de exórdio as oito bem-aventuranças, como portal magnífico de um palácio incomparável.

Neste sermão o Messias, “a título de fundador e legislador da Nova Aliança, declara a seus súditos o que lhes pede e o que deles espera, se querem servi-Lo com fidelidade”. ⁽²⁾

Violenta ruptura com antigos costumes e preconceitos

Difícil nos é hoje, após dois milênios, compreender a novidade radical contida nessas palavras do Divino Mestre. Trouxeram elas para o mundo uma suavidade nas relações dos homens entre si, e destes com Deus, desconhecida no Antigo Testamento e, a fortiori, pelas religiões dos povos pagãos.

Com efeito, as palavras de Nosso Senhor vão provocar uma completa transformação dos costumes da época, marcados pelo egoísmo, pela dureza de trato e até mesmo pela crueldade. Elas são próprias a determinar também uma violenta ruptura com “os preconceitos dos contemporâneos de Jesus sobre o reino messiânico e o próprio Messias — já que esperavam um Messias forte e poderoso na ordem temporal, formidável guerreiro que deveria subjugar as nações e colocá-las sob a férula de Judá, tendo Jerusalém como capital gloriosa”. ⁽³⁾

Lago de Genezaré- Ao fundo o monte das Bem Aveturanças

A felicidade não está no pecado

Afirma o eloquente Bossuet: “Se o Sermão da Montanha é o resumo de toda a doutrina cristã, as oito bem-aventuranças são o resumo do Sermão da Montanha”. ⁽⁴⁾ Elas sintetizam, de fato, todos os ensinamentos morais dados pelo Redentor ao mundo e estabelecem os princípios de relacionamento prevalentes em seu Reino.

Ao praticá-las, o homem encontra a verdadeira felicidade que busca sem cessar nesta vida e jamais poderá encontrar no pecado. Pois, quem viola a lei de Deus no afã de satisfazer suas paixões desordenadas afunda cada vez mais no vício até se tornar insaciável. “Todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34), adverte Jesus.

As almas puras e inocentes, ao contrário, desfrutam já nesta Terra de uma extraordinária alegria de alma, mesmo no meio de sofrimentos ou provações.

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⁽¹⁾ Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, O inédito sobre os Evangelhos, Libreria Editrice Vaticana, 2013, vol. II, p. 39-42.

⁽²⁾ FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo.Vida pública. Madrid: Rialp, 2000, v.II, p.94.

⁽³⁾ GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio Explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.II, p.158.

⁽⁴⁾ BOSSUET. Meditations sur l’Évangile. Versailles: Lebel, 1821, p.4.